VISITA A PONTOS DE CULTURA COMUNITÁRIA

Em Mendoza conheci os Huarpes, povo originário da região. A cidade é atravessada por valas, ou pequenos canais, que levam a água de degelo dos Andes para reservatórios. A região é muito árida, um deserto. A água destes reservatórios é disciplinadamente compartilhada entre os moradores da cidade e do campo.  Este procedimento é muito antigo e hoje a região é economicamente bem sucedida, famosa pelas suas vinícolas e vinhos.

DSC00028 uma vala, ou canal, entre a calçada e a rua

Fomos visitar uma aldeia Huarpe situada na Cordilheira dos Andes (as fotos a seguir é de quando estávamos indo em direção à aldeia – avista-se a Cordilheira dos Andes ao fundo).

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A Aldeia Guaytamari fica a beira de uma caminho milenar conhecido por “Caminho da Terra” ou Chapanã.

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Um senhor nos recebeu, começou a conversar e nos deu uma fantástica aula da cultura Huarpe. Nos contou que, embora nas escolas ensinem que os colonizadores chamaram os nativos de “índios” por acharem que haviam chegado às Índias, isto não é verdade. Pois “Dios” da língua espanhola significa “Deus” – “In-Dios” significa “Sem-Deus” (sem alma, selvagem). Disse  que os colonizadores poderiam ter dito que os nativos não tinham religião, mas povos originários possuem “espiritualidade”. Explicou que as religiões são sempre piramidais ou hierárquicas – a espiritualidade é horizontal, não existe hierarquia, assim como a cultura (entre as várias manifestações culturais não existe uma relação hierárquica – o jongo não será melhor ou mais importante ou vai mandar na capoeira, ou no maracatu, ou no frevo – o músico não é melhor nem pior do que um pintor, um escritor ou um bailarino – na espiritualidade, uma entidade (um orixá, ou um santo) não é mais nem menos do que o outro, cada um tem sua própria identidade, seu próprio espaço). Este xamã ainda me ensinou outros conceitos. Disse que nativo receberá uma visita, ou um vizinho, sem lhe pedir que mostre seu passaporte – uma visita se recebe com alegria. Contou também que a Cordilheira dos Andes é considerada a espinha dorsal da Terra (que o Brasil, geograficamente, seria como a barriga do continente). Por este motivo, o caminho milenar que segue pela Cordilheira dos Andes é chamado “Caminho da Terra” – que eles se orgulham de preservar. Contou que os Huarpes tiveram contato com os Incas e que o Caminho da Terra encontra-se com o Caminho do Sol em Cuzco, Machu Picho, capital do Império Inca. (ah, nesta hora meu coração bateu mais forte: o Caminho da Terra encontra-se com o Caminho do Sol em Machu PIchu? Exatamente o Caminho do Sol que passa na Vila Pirajussara, no Morro do Querosene, na Fonte do Peabiru!!!!). Explicou que antigamente falava-se em pele branca, negra, amarela e vermelha. Perguntou: “O que aconteceu com os pele-vermelha?” “Desapareceram? Deixaram de existir? Isto reflete quão invisíveis ficaram os povos indígenas.” E eu, ca’com meus botões lembrei da cor parda criada para identificar alguns cidadãos… Finalmente ele nos contou que para os povos originários, a Terra é Mãe (deve ser respeitada, cuidada, vista como a mãe que recebe, alimenta e cria seus filhos. Mãe que não pode ser comprada nem vendida.). Perguntou ao grupo: “Que nome deve ter a Terra?” e alguém arriscou “Pachamama”. “Não”, ele respondeu. Seu nome é “Abya Yala”. Abya Yala é palavra do povo Kuna (que significa Terra-Mãe), adotado pelos demais povos na Convenção Indígena de 2003, expressa a terra do Continente, indo do Alaska à Patagônia. Porém, segundo aquele senhor, pode significar toda a Terra pois os povos originários não sabiam da existência de outras.”

Caminho da Terra e do Sol

Este foi nosso mestre da Cultura Huarpe                        E esta é Cláudia, sua mulher.   61076532_10218933210662766_7089892915702398976_o       61090129_10218933243983599_8918581383501185024_o     60455999_10218920821873054_657603378993430528_o

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Visitamos a Biblioteca Popular de La Carcova criada por um ex-presidiário sobre um lixão, para a comunidade que tinha sua subsistência no antigo lixão. De um lado do lixão ficava o presídio, e do outro, a Biblioteca. Espaço coletivo criado e administrado pela comunidade que teve sua vida transformada por aqueles livros e espaço de cultura.

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Depois, saindo da Cidade de Paraná (na província de Entre-Rios) em direção a Buenos Ayres, fomo visitar a Escola Popular Charrúa Etriek, num vila muito simples, com rádio comunitária. Quando os micros chegaram, muitas pessoas nos esperavam  e nos saudavam entusiasmadas. A recepção foi muito calorosa: pessoas de baixo poder aquisitivo, muitas crianças,  nos receberam com bolo de fubá, pão com geleia e  suco. Lembrava algum lugar da minha infância, me sentia no Brasil…  O pequeno espaço da escola, mais parecia uma galeria de arte, tantas obras ali expostas.  Manoel, do Equador, acendeu uma fogueira. Cantamos, dançamos e nos abraçamos. Foi lindo!

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Em San Martin, já próximos de Buenos Aires, artistas expunham suas artes nas ruas. Foi então que vi algo que nunca havia pensado: América Latina?

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E em Buenos Ayres, conheci a Praça das Mães de Maio, com a Casa Rosada ao fundo

Cecília em Buenos Aires 2 por Poliana

O IV Congresso de Cultura Latino-americano de Cultura Viva Comunitária foi experiência riquíssima, um banho de cultura que tenho o prazer de compartilhar com que estiver lendo estas páginas.

 

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