Na década de 1920, foto com foco no Instituto Butantã mostra, no horizonte, a Rua da Fonte.

Em 1930, o engenheiro Paulo Amaral faz uma planta da “Villa Pirajussara”.

Em 1935, no Livro 586 do 2º Tabelião de Notas da Capital de São Paulo, é lavrada a “Escritura de constituição de servidão de trânsito” sobre trecho da Rua da Fonte transformado em lote na planta de Paulo Amaral, lote que é “comprado” por Toledo Lara no mesmo dia que “concede servidão perpétua de trânsito” da Rua Padre Justino para o terreno dominante (de José Guilherme Eiras), “servidão que é extensiva a qualquer espécie de sucessores, para qualquer espécie de trânsito, quer em demanda ao terreno dominante, quer a outros lugares, através desse terreno e vice-versa, ainda que dito terreno dominante venha a ser loteado”.

Esta informação “quer a outros lugares, através do terreno dominante” coincide com depoimentos e muitas fotos aéreas, inclusive do Google, que a Rua da Fonte (ou a servidão perpétua de trânsito) atravessava a gleba SQL 82-402-0001, também conhecida como Chácara Santanésia ou Chácara da Fonte.

Em 1991 a placa com o nome de logradouro “Rua da Fonte” é substituída por outra com os dizeres “Travessa Cingapura”. A Portaria 493/91, Secretaria da Habitação, diz “Travessa Cingapura, CodLog 07.270-2…..termina a aprox. 85m do seu início (na Rua Padre Justino)”. Assinado por Ermínia Terezinha Menon Maricato. Ou seja, além da mudança de nome, a Rua da Fonte passa a ter aproximadamente 85 metros de comprimento, indo da Rua Padre Justino até a Fonte, numa gruta de pedra, que jorra abundante água pura e mineral.

A comunidade do Morro do Querosene movimenta-se pela volta do nome “Rua da Fonte”. É constituído o processo 2001-0.187.101-7 e na folha de informação nº 13, CASE 41 – SeHAB , lê-se: “Em vista aos processos 1991-0.001.151-7 e 1979-0.011.476-9 não terem elucidade as dúvidas existentes sobre a titularidade da área, solicitamos prosseguir elaborando minuta de portaria de designação retornando o nome de Travessa da Fonte”. Assinado por Arq. Eliana Beccato Mellone. E assim é baixada a Portaria 829/2001 que dá o nome “Travessa da Fonte… com aprox. 85 metros do seu início”. Assinado pelo Sr. Secretário Paulo Teixeira.

Em 2001, a foto acima mostra destruição da serrapilheira e Rua da Fonte sem pavimentação, ou seja, uma rua de terra. No dia em que a placa é trocada para “Travessa da Fonte”, a rua é asfaltada  neste primeiro segmento que se confunde com o lote desenhado por Paulo Amaral e que termina a aprox. 40 metros do seu início.

Em 2003, a Sra Prefeita Marta Suplicy assina o Decreto nº 43.721 que dispõe sobre a denominação de logradouro público “Travessa da Fonte, Código CADLOG 07.270-2… e termina a aprox. 85 m do seu início.” Ou seja, a Travessa da Fonte chega até a Fonte.

Em 2004, a gleba é indicada para ZEPEC, Plano Regional Estratégico da Subprefeitura do Butantã, Quadro nº04B do Livro X. A Resolução 26/2004, CONPRESP, abre processo de Tombamento para todas as ZEPECs.

Em 2007, foto mostra Rua da Fonte.

 

Em 2008 é construído muro alto com um estreito portão para pedestres, no local onde termina o asfalto, a aprox. 40 metros do início da Rua da Fonte. Ou seja, a Rua da Fonte passa a ter aprox. 40metros de extensão. Serve apenas a uma marmoraria que se instalou num velho galpão e terreno no lote à esquerda, e aos proprietários da Chácara, a Família Basile (os herdeiros de Salvador, seus 3 filhos Pedro, Tereza e Margarida).

A servidão perpétua de trânsito já não leva a lugar nenhum, o Decreto 43.721 não tem significado assim como o CONPRESP e seu tombamento não é respeitado. Pior que tudo, a comunidade já não tem acesso à água, apenas vê o abandono com que ela sai pelo estreito portão e vai para a boca-de-lobo mais próxima. Na chácara, mato e água se misturam favorecendo a criação de mosquitos. E a pequena parcela da rua que restou, local para drogas, prostituição e fugitivos, dá medo.

Dias após a construção do muro, em 2008, foi feita uma solicitação à Prefeitura para que retirasse o muro (SAC). O funcionário do expediente imprimiu um mapa para indicar o local da solicitação. Este mapa mostra rua que tem uma quebrada para a esquerda, vai além do muro. A subprefeitura da Butantã foi procurada inúmeras vezes: não tirou o muro e também não mostrou qualquer documento ou justificativa para que o muro permaneça lá. Nenhum documento de que a Rua pertença aos Basile. E insiste em querer encontrar o registro da Rua em PATRI ou DEMAP, como é chamado hoje em dia, ignorando a história de uma rua muito antiga, o depoimento dos vizinhos mais velhos, as fotos aéreas, o Decreto-lei e o Tombamento no CONPRESP. Tanto tempo se passou, tantas voltas deu nossa solicitação entre os vários departamentos municipais…  já fizemos novo SAC, e agora acompanhamos o processo 2011/0037088/5 que está em DEMAP-1, Primeira Procuradoria, Secretaria dos Negócios Jurídicos, em mãos da advogada, funcionária Sra Denise Moreno Vasquez Ferro, desde 18/02/2011.

Foto atual (2011) mostra o muro.

 

 

 

Esta Fonte é riqueza ambiental e cultural. Nos levou a conhecer o Peabiru, caminhos milenares. E a Vila Pirajussara era ponto de encontro de vários caminhos, assim como até hoje no Butantã se cruzam várias estradas (para o sul, Régis Bittencurt, para oeste, Raposo Tavares e Castelo Branco, para o Centro da Cidade e de lá para o litoral, pela Estrada da Boiada, para Campinas, e ainda tem o caminho para Santo Amaro e M´Boi).

Em defesa da Fonte. Em defesa da Água. Em defesa da Saúde e do nosso Meio Ambiente!

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